quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

SOPA - A lei que pode matar a internet


A "Web 1.0" nasceu em 1993 e chegou ao Brasil em 1995, como uma grande rede mundial de computadores onde qualquer pessoa com conhecimento de HTML e figuras em .GIF animadas podia expressar suas opiniões criando sites e blogs.

Na virada do milênio, surgiu a Web 2.0, onde os leitores poderiam também participar dos sites, mesmo sem saber nada ou quase nada de HTML. Com sites animados (JAVA, Flash...), redes sociais, sites "Wiki", redes de blogs e mecanismos de busca, se tornou possível comentar publicações, criar conteúdo em conjunto, disponibilizar arquivos e participar de eventos simultâneos, como em MMOs e outros jogos sociais.

A Web 3.0, no entanto, pode ser um pesadelo absolutista de fazer inveja ao Big Brother de George Orwell.

Já a algum tempo que a indústria do entretenimento anda perdendo vapor. Não houve a transição do DVD para o Blu-Ray como houve do VHS para o DVD, os filmes andam fazendo cada vez menos bilheteria (com excessão da Saga Crepúsculo e similares) e reciclando velhas fórmulas há muito tempo gastas. Na indústria da música a coisa não está muito melhor, com cantores de talento sendo trocados por atores-mirins de musicais Disney e bandas criadas a mando dos produtores, sem qualquer afinidade ou gosto pela música que tocam.

A indústria de games, apesar de andar batendo recordes por aí (Call of Duty e Skyrim liderando listas de mais vendidos), caiu em um marasmo intelectual difícil de sair, com centenas de games idênticos sendo cuspidos no mercado e tentando se manter as custas de outros. Para cada Call of Duty e Battlefield há dezenas de outros shooters idênticos naufragando por aí, e até gigantes do entretenimento digital como a Nintendo estão amargando perdas pesadas, principalmente pela falta de novidades (francamente, alguém ainda fica sem dormir quando um novo Mário ou Zelda é anunciado?).

O que fazer? Contratar roteiristas competentes? Pagar melhor os que já estão no mercado? Não, parece que essa não é a decisão dos magnatas da mídia, tanto que volta e meia há greves de roteiristas nos EUA por melhores salários.

Ao invés de tentar consertar seus pontos fracos, a indústria do entretenimento resolveu buscar um bode expiatório nos piratas, principalmente nas pessoas que baixam e compartilham arquivos digitais de música, vídeo ou jogos pela internet. E para combatê-los, estão pretendendo soltar uma bomba atômica na internet, destruindo tudo o que a rede representa e para a qual existe.

A amarga SOPA

Esta bomba tem nome, engraçado em língua portuguesa, mas de consequências devastadoras. OSOPA (Stop Online Piracy Act) é uma proposta de lei que deve ser votada no Congresso Americano e pretende dar poderes sem precedentes para as grandes corporações.

Atualmente a coisa funciona mais ou menos assim: Vamos supor que o Blog do Gamer publicou um trailer de algum game que vai ser lançado. A EA games de alguma maneira ficou sabendo e não gostou de ver material dela (o trailer) no site. A EA então entra em contato com o dono do site (Eu) e pede que o conteúdo seja retirado. Como eu sou um cara legal, eu logo deleto o vídeo. Caso contrário a empresa poderia me processar e exigir o pagamento de direitos autorais para ela, com direito a multa.

O SOPA daria poderes às corporações de pular toda a parte de contato com o site, processo, julgamento e direito de defesa do réu. Com esta lei aprovada, a EA pode preencher um pedido de bloqueio no Ministério da Justiça americano e tirar do ar TODO o Blogger, não só o Blog do Gamer, mas todo e qualquer conteúdo da rede social/site/portal pode ficar indisponível de um dia para o outro, por quanto tempo a empresa quiser.

Esse modelo, baseado no bloqueio do DNS do site, não é novidade, na verdade ele é amplamente utilizado por governos controversos, como o da China, Irã e Coréia do Norte.

A principal diferença é que não há muitas redes sociais, portais ou grandes sites de busca localizados, por exemplo, na Coréia do Norte. Portanto um bloqueio no DNS do Blogger por lá não afeta ninguém no Brasil ou em Portugal. As grandes redes virtuais, no entanto, estão quase todas localizadas nos EUA ou hospedadas em servidores americanos, e um corte no DNS delas poderia tirar toda a rede do ar.

Outro problema é a extensão do poder dado às corporações, sem qualquer direito de defesa do acusado. Uma grande empresa como a EA games, por exemplo, poderia "tirar do ar" sites de empresas menores como a Taleworlds ou Zynga alegando (falsamente) posse de material com direitos autorais. Impossível? Não quando estamos falando, ainda que hipoteticamente, de uma empresa que comprou direitos de TODOS os times de futebol americano para mais ninguém poder produzir games do esporte... Se ela tivesse o poder de bloquear qualquer site na internet, por que não tirar as outras empresas do ar?


- Se a SOPA passar...


Mesmo diante dessa SOPA toda (que me perdoem o trocadilho), brasileiros e portugueses podem ficar despreocupados, pois a lei só terá efeito nos EUA. Basicamente vai servir para piorar a crise econômica por lá, uma vez que empresas que lidam com conteúdo criado por usuários de sites, como o Facebook, Google (que é dona do Orkut, Google+, Blogger e Youtube), Wikipedia e outros, terão que se mudar dos EUA para sobreviver.

Esses sites, incapazes de ser acessados de dentro das fronteiras americanas, terão que se concentrar na América Latina, Europa, parte da Ásia e Oceania que não tem leis de bloqueio de DNS. Sem acesso ao mercado americano, muitas redes sociais e sites de vídeo por streaming simplesmente deixarão de existir, acreditando que "não vale a pena" continuar investindo em um site para o resto do mundo.

Diante da abertura que essa lei dá, sem determinar realmente o que é pirataria ou quem vai intermediar entre os sites acusados e as corporações, é possível que a internet dos EUA se torne extremamente fechada, com redes de TV como a Fox e CNN fechando acesso, pela internet, a canais estrangeiros como a Al Jazeera e Globo News.



A pirataria continuará da mesma forma, pois a maioria dos sites de torrent e troca de arquivos são hospedados na Europa, e os piratas americanos ainda poderiam obter conteúdo pirata acessando estes sites pelo IP (Protocolo de Internet, que não será bloqueado como o DNS) ou através da "Web Profunda", parte da internet inacessível aos browsers normais ou que usam protocolos exóticos, diferentes dos HTTPs e HTTPs que estamos acostumados.

Sua rede social favorita, sites de vídeos como o Youtube, sites de games como Gamespot e de notícias podem estar com os dias contados, mas os piratas que baixam jogos crackeados, filmes gravados por câmera de celular e músicas retiradas de CDs não terão mais que um breve inconveninente ao acessar estes conteúdos. Isso se eles morarem nos EUA...

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